Por que devemos falar sobre câncer infantojuvenil?

Por: Profa. Dra. Paola Alexandria P. de Magalhães. Enfermeira e PhD em Ciências pela Universidade de São Paulo – EERP/USP

Durante os últimos dias, pudemos presenciar a revelação do jornalista Tiago Leifert e da esposa Daiana Garbin em um vídeo no qual disseram que a filha de cerca de um ano de idade foi diagnosticada com retinoblastoma. Tal notícia repercutiu nacionalmente e sensibilizou a todos para o tema câncer infantil. 

Até a década de 90, não existia no Brasil um tratamento direcionado apenas para o câncer infantojuvenil, o que dificultava muitas vezes o processo de cura e sobrevida. A partir desta década, muitas organizações não governamentais (ONG´s) surgiram com a finalidade de apoiar as famílias de crianças diagnosticadas com esta doença e sensibilizar, de certa forma, a sociedade quanto a este assunto tão delicado.

A partir de uma grande mobilização social e civil, nas últimas duas décadas, surgiram vários institutos especializados em câncer infantojuvenil e isso foi um grande progresso. Inclusive, o mês de setembro, chamado de “setembro dourado” foi escolhido para enfatizar sobre a importância e urgência em se falar sobre esta temática e do diagnóstico precoce. Infelizmente, o câncer ainda é uma doença muito estigmatizada, e quando se trata de criança, o medo do diagnóstico pelos pais e cuidadores se torna ainda mais presente.

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer no Brasil, o câncer infantojuvenil representa a primeira causa de morte por doença entre crianças e adolescentes de 1 a 19 anos (8% do total). A Organização Mundial da Saúde relata que, a cada hora, no Brasil, surge um novo caso da doença e também afirma que os números de novos casos tende a aumentar nos próximos anos. Ainda segundo o Instituto Nacional de Câncer, as estimativas de novos casos estarão por volta de 8.460 (4.310 para o sexo masculino e 4.150 para o sexo feminino) e o número de mortes de crianças e adolescente com essa doença em torno de 2.554.

É importante dizer que o câncer na infância muitas vezes é confundido com sintomas de doenças comuns nesta fase, e a suspeição da doença acaba sendo baixa. Assim, devemos enfatizar que o fator tempo é muito importante, devido ao fato da criança estar em fase de crescimento e desenvolvimento e esse processo estimular o crescimento tumoral. Por isso, o câncer costuma se desenvolver muito rapidamente. Cabe ressaltar a importância do diagnóstico precoce: quanto antes diagnosticado maiores são as chances de cura!

Devido aos progressos da ciência, dos diagnósticos e tratamentos do câncer na infância, em torno de 80% das crianças e adolescentes podem ser curados se diagnosticados precocemente. A maioria deles terá boa qualidade de vida tanto na infância quanto na vida adulta após o tratamento adequado.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer, os tumores mais frequentes na infância e na adolescência são: as leucemias (que afetam os glóbulos brancos), os que atingem o sistema nervoso central e os linfomas (sistema linfático), o neuroblastoma (tumor de células do sistema nervoso periférico, frequentemente de localização abdominal), tumor de Wilms (tipo de tumor renal), retinoblastoma (afeta a retina, fundo do olho), tumor germinativo (das células que originam os ovários e os testículos), osteossarcoma (tumor ósseo) e sarcomas (tumores de partes moles).

Vale ressaltar e estar alerta sobre o fato de que as crianças não inventam sintomas, dessa forma, os pais, cuidadores, educadores e profissionais de saúde devem estar atentos a sinais e sintomas como: perda de peso inexplicável e contínua, dor nos ossos ou articulações que prejudicam as atividades, dores de cabeça, caroços que não somem (no pescoço, axilas, virilhas e abdômen), aumento de volume na barriga, pequenas manchas avermelhadas pelo corpo, manchas roxas na pele, brilho esbranquiçado nos olhos quando a retina é exposta à luz, cansaço constante, palidez, anemia, febre persistente, com origem indeterminada e infecções frequentes.

Ao identificar alguns deste sintomas, é importante procurar o serviço de saúde. Se o problema persistir mesmo após o tratamento, é importante retornar ao médico e insistir em um diagnóstico mais cuidadoso ou consultar uma segunda opinião. Toda a sociedade deve se unir afim de conscientizar-se sobre a importância do diagnóstico precoce, de terapia adequada e de qualidade, em centros especializados.

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