Depressão Pós-parto: como percebê-la?

Por: Dra. Paola Alexandria Magalhães / PhD em Ciências Programa Pós-graduação Enfermagem em Saúde Pública – USP

Estamos no Janeiro Branco, mês em que enfatizamos as questões relacionadas à saúde mental e a importância da mesma. Em um dos nossos artigos anteriores trouxemos sobre a depressão e a importância de atentar-se aos seus sinais. Vimos que, segundo a Organização Mundial da Saúde e Organização Pan-Americana de Saúde, estima-se que mais de 300 milhões de pessoas sofram de depressão, e que esta doença é mais comum do que imaginamos. 

Alguns estudos científicos trazem que as mulheres apresentam risco duas vezes maior para desenvolver a depressão quando comparadas aos homens. Também trazem que essa diferença é ainda maior quando está associada à responsabilidade dos cuidados com os filhos. O período gravídico-puerperal também tem sido considerado de alto risco para o desenvolvimento de depressão e, a taxa dessa doença tem se mostrado maior em mulheres de países em desenvolvimento, apresentando taxas de prevalência em torno de 20%, o que é considerado um alto índice. Também demonstram que mulheres que já tiveram história de depressão possuem um risco cerca de 50% maior de desenvolver a depressão após o parto. 

Mas o que é depressão pós-parto? Como diferenciá-la da tristeza pós-parto ou chamado “baby blues”? Há tratamento?

É importante destacarmos que o período gravídico-puerperal, ou seja, o período da gravidez e do pós-parto, apresenta um risco significativo para o desenvolvimento de depressão e ansiedade e isso se dá devido às mudanças hormonais, físicas e emocionais que são experienciadas pela mulher. Após dar a luz, a mulher experiencia uma queda hormonal de estrogênio e progesterona que durante a gravidez estiveram em níveis altos em seu organismo. É importante salientar que tais hormônios femininos agem no sistema nervoso central, de certa forma influenciando os neurotransmissores, lembrando que este não é um fator único para desencadear a tristeza ou a depressão. 

A tristeza pós-parto, ou chamado “baby blues”, está relacionada a irritabilidade, melancolia, certa angústia que pode iniciar-se a partir do terceiro dia após o parto tendo a durabilidade de até 15 dias. Ou seja, o “baby blues” é passageiro causado pelas alterações hormonais bruscas depois do parto, e irá desaparecer de modo espontâneo. Cerca de 50% das mulheres podem apresenta-lo.

A depressão pode manifestar-se nas diferentes fases da gestação e seu diagnóstico deve ser feito o mais precoce possível para prevenir o agravamento do quadro na intenção de evitar prejuízos para o vínculo mãe e bebê.  Já a depressão pós-parto se diferencia de mudanças usuais no humor ou emocionais de curta duração referentes aos desafios diários, ou seja é diferente da tristeza pós-parto.

Ela começa algumas semanas após o parto e pode desencadear sintomas e sinais como sentimentos de impotência e incapacidade, dificuldades para realizar tarefas do dia a dia, irritabilidade, choro compulsivo, insônia, inapetência ou apetite descontrolado e tristeza intensa. Lembrando que a tristeza não está relacionada à criança em si, mas permeia todos os aspectos da vida destas mulheres, ou seja, ela perde o interesse por atividades diárias e por atividades que antes eram prazerosas para ela.

Infelizmente, na maioria das vezes as queixas não são valorizadas pelos familiares e/ou profissionais da saúde, principalmente aos que estão mais próximos à mulher neste período. Mas é importante estarmos atentos. 

É preciso enfatizar que há tratamento para a depressão no pós-parto. Existem medicamentos seguros que podem ser prescritos neste período, e que não irão trazer prejuízo ao desenvolvimento da criança que está sendo amamentada, por exemplo. O acompanhamento médico e da enfermagem, assim como a atenção de toda a equipe de saúde, como psicólogos, por exemplo, são essenciais. 

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