Dor física ou Dor psíquica?

Por: Dra. Paola Alexandria Magalhães / PhD em Ciências Programa Pós-graduação Enfermagem em Saúde Pública – USP

Ao longo de minha atuação como enfermeira, no cuidado integral de pacientes oncológicos, especificamente de mulheres com câncer de mama, me deparei diversas vezes com a dor em suas diferentes formas. Muitas pacientes queixavam-se de dor, mas muitas delas já não estavam mais em tratamento de quimioterapia ou radioterápico, e “aparentemente” não tinham lesões físicas que justificassem a dor. 

Isso me levou a pensar, na dimensão da dor na vida do ser humano, independente de ter tido ou não algum tipo de doença. O que leva a dor? Há dor psíquica? Como podemos atuar diante da dor do outro?

Muitos questionamentos sobre manifestações dolorosas que se manifestam no corpo têm sido fonte de discussões nos diferentes campos da saúde devido a dificuldade em diagnosticar e tratar pessoas que sentem e sofrem de uma dor que não apresenta qualquer sinal orgânico.

Quando há uma dor sem aparente lesão física, segundo Birman, psiquiatra, psicoterapeuta e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o corpo passa a ser o meio de expressão da dor e do sofrimento. Dessa forma, imagina-se que, por alguma razão, essas pessoas encontrem empecilhos para manifestarem sua dor no plano psíquico (relativo à esfera mental ou comportamental do indivíduo), e a dor se manifesta no corpo físico. 

Segundo Freud, médico neurologista e criador da Psicanálise, o mal-estar geral e físico poderia estar baseado nos conflitos psíquicos, em relação aos quais muitas vezes as impedições morais são o centro da questão. Para Santos & Rude, estudiosos na área de psicanálise, o mal-estar, na cultura atual, se apresenta como dor, e aloja-se especialmente no corpo físico, o que leva a pensar que a linguagem e o pensamento não estão conseguindo manifestar tais dores. 

Nesse sentido, ainda para Santos & Rude, a dor sem alterações orgânicas testemunha uma profunda ligação entre físico e psíquico, e faz pensar sobre o que se apresenta num corpo, pela via da sensação e do que seria possível de ser transmitido em palavras a respeito do sofrimento. Assim, é preciso acessar, o que há de enigmático no sujeito, o que apenas esse sujeito, poderia descrever.

Perturbações como síndrome do pânico, doenças psicossomáticas (doenças físicas ou não, que têm seu princípio na mente) e depressões evidenciam que a grande marca das patologias atuais implica uma fragilidade dos recursos simbólicos, de linguagem e pensamento que poderiam representar a dor. Assim, fica evidente que as perturbações psíquicas acabam se expressando no corpo, pela dor, ou seja, manifestações corporais de perturbações psíquicas, o mal-estar expresso por meio de dores corporais gerando a dor psíquica.

Então, a dor psíquica existe, e como as outras dores precisa ser tratada, mas de forma holística, ou seja, completa que envolva todas as dimensões do ser humano: física, psíquica, social e espiritual. E, portanto, a nós profissionais de saúde, enfermeiros, médicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, cabe atuar cada um em sua dimensão profissional pra aliviar a dor psíquica dessas pessoas, acolhendo-as e ouvindo-as.

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