Câncer de mama e prótese de silicone

Por: Dra. Paola Alexandria Magalhães / PhD em Ciências Programa Pós-graduação Enfermagem em Saúde Pública – USP

Estamos no Outubro Rosa mês de prevenção e combate ao câncer de mama, e várias são as dúvidas e os questionamentos sobre este assunto. Um deles é sobre a prótese de silicone e o câncer de mama.

É importante contextualizarmos que o uso de próteses e implantes se popularizou amplamente, inicialmente nos EUA e mais tarde no Brasil. De acordo com a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica, em 2015, foram realizados 158.950 implantes mamários de silicone em nosso país. No entanto, um questionamento surgiu: quem tem prótese de silicone tem risco aumentado para desenvolver o câncer de mama?

Políticas públicas de saúde têm sido criadas para direcionar a prevenção, o rastreamento e a detecção precoce do câncer de mama. E estudos e pesquisas vêm sendo desenvolvidos a fim de entender a possível relação do câncer de mama e do uso de próteses de silicone.

Vale ressaltar que algumas complicações têm sido descritas na literatura como consequência do uso do silicone tais como, por exemplo, contratura do tecido circunjacente a mama, desconforto, dor, aparência anormal da mama, ruptura do implante, escapamento do silicone, migração do silicone para tecidos vizinhos e distantes e desenvolvimento de resposta imunológica.

Uma dessas respostas imunológicas, recentemente descrita pela comunidade acadêmica, é o Linfoma Anaplásico de Grandes Células (ALCL) – esse é um tipo de câncer associado ao implante mamário. Os sinais e sintomas associados à esse câncer são: inchaço persistente ou dor na região da mama. Sua localização é próxima ao implante, sendo ele muitas vezes percebido como um nódulo aderido ao silicone. No entanto esse câncer é raríssimo. Um estudo realizado em Connecticut (EUA) mostrou que os implantes de silicone não são carcinogênicos. E um estudo ecológico utilizando os dados do National Cancer Institute’s Surveillance, Epidemiology, and End Results Program (SEER) mostrou que não há evidência do aumento do risco de sarcoma de mama em mulheres usuárias de implantes mamários.

Assim, é importante ressaltarmos que próteses de silicone não são fator de risco para o desenvolvimento do câncer de mama, mas podem dificultar o diagnóstico da doença. E que as próteses de silicones podem ser acopladas atrás do tecido mamário. Assim, é possível que a mulher portadora da prótese de silicone faça a prevenção do câncer de mama.

O uso de silicone não impede que a pessoa faça o autoexame das mamas. Segundo o Instituto Nacional do Câncer, “a orientação é que a mulher realize a auto palpação/observação das mamas sempre que se sentir confortável para tal (seja no banho, no momento da troca de roupa ou em outra situação do cotidiano), sem nenhuma recomendação de técnica específica, valorizando-se a descoberta casual de pequenas alterações mamárias. “É necessário que a mulher seja estimulada a procurar esclarecimento médico sempre que perceber alguma alteração suspeita em suas mamas e a participar das ações de detecção precoce do câncer de mama. Com o uso de silicone, no entanto, o autoexame pode ficar prejudicado. Isso ocorre porque o material tem consistência mais firme, podendo falsear a percepção de nódulos que ficam atrás dele. 

No que se refere à mamografia, mulheres que possuem prótese mamária podem realizar o exame. As próteses e implantes são radiopacos e podem obscurecer lesões, por isso, quando essas mulheres fazem mamografia, são realizadas manobras afim de a maior quantidade possível de tecido mamário, essa manobra é conhecida como manobra de Eklund. Apesar da manobra realizada, a acurácia da mamografia nas portadoras de próteses é considerada um pouco mais baixa. No entanto, essa diminuição da acurácia não influencia as características prognósticas dos tumores.

É importante destacarmos que, apesar de não representar fator de risco para a doença, o implante mamário pode dificultar o diagnóstico do câncer. O impacto da sua presença em uma possível detecção da neoplasia, de acordo com o Hospital Israelita Albert Einstein, dependerá da forma, volume, situação retro ou pré peitoral da prótese e também do volume mamário onde está inserida.

É importante que nós mulheres estejamos sempre atentas à nossa saúde e à saúde de nossas mamas. Devemos adquirir hábitos que previnam o surgimento do câncer de mama, como hábitos de vida saudáveis, evitar consumo de álcool e tabaco e praticar exercícios físicos, além de estarmos atentas aos fatores de risco. E, para àquelas que possuem a prótese mamária, a atenção deve ser especial.

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