Novo presidente terá que reconstruir a Vale

Eduardo Bartolomeo

Mesmo com bastante experiência, novo presidente da Vale pode ter sua atuação limitada por ser interino

Assumiu, no último sábado (02), depois do afastamento temporário de Fábio Schvartsman, Eduardo Bartolomeo como presidente interino da Vale. Em seu comando, duas prioridades imediatas já estão sendo tomadas, na avaliação de especialistas da indústria de mineração e de fontes ligadas à companhia. A primeira missão está destinada a melhorar o diálogo com as autoridades responsáveis pelas investigações de Brumadinho, cujo objetivo, é chegar a um acordo definitivo com as famílias das vítimas da tragédia. Em seguida, será a vez de reequilibrar a produção de minério de ferro da empresa em Minas Gerais, o que passa por conseguir, a liberação de Brucutu, importante mina para a Vale e para o Estado, além das pelotizadoras de Vargem Grande e de Fábrica, ainda paralisadas.

É considerada primordial a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) pela Vale com as autoridades em relação as reparações definitivas de Brumadinho, para que a companhia retome a sua normalidade operacional. O desastre em Brumadinho e demais fatos subsequentes arranhou profundamente a reputação da Vale, deixando 186 pessoas mortas e outras 122 ainda desaparecidas.

Bartolomeo é visto como um executivo capaz de retomar a busca pela excelência operacional. Até a sua nomeação como presidente interino através do conselho, seu cargo era de diretor-executivo de metais, no Canadá. O novo presidente, com 54 anos, conhece bem a Vale e já trabalhou durante dez anos em diversas posições de liderança na empresa.

Agora, o executivo tem duas missões bastante espinhosas: dar um novo gás nas conversas com o Ministério Público, com a Justiça e as pessoas das comunidades afetadas pela tragédia e reorganizar a Vale do ponto de vista operacional. A empresa terá que repensar sua maneira de gerir e de colocar de lado atitudes de “soberba”.

Pessoas ligadas à indústria mineral afirmam que a troca de comando trará mais tranquilidade interna na empresa, por acalmar parte dos funcionários que ainda acreditam que a diretoria teria “ignorado” os alertas referentes aos riscos da barragem.

Bento Albuquerque, ministro de Minas e Energia no Canadá explica que a Vale vai ter que arcar com as consequências. “Temos que esperar e, após apresentados os resultados, a empresa vai arcar com as consequências”, afirmou.

Ainda que tenham apresentado uma carta de afastamento dos seus respectivos cargos como presidente por Schvartsman e de Poppinga como diretor executivo de ferrosos, o conselho da Vale já havia decidido sobre o afastamento destes através das autoridades. Partiu do conselho também a nomeação de Bartolomeo como interino, mas com chances de permanecer no cargo, dependendo de como será a sua atuação e as mudanças que precisam acontecer até o mês de abril deste ano. Sob a intervenção do Comitê Especial de Investigação, criado após a tragédia em Brumadinho, Bartolomeo terá duas de suas decisões como CEO restritas, como não ter a sua própria diretoria e a sua condição enquanto interino, que também não favorece.

Caberá a Bartolomeo restabelecer a todo custo à confiança nas barragens, além de firmar o processo de descomissionamento de diversas barragens apresentado. Para algumas fontes, ainda que a Vale mude toda a sua tecnologia voltada para os rejeitos, esta tarefa demandará um longo tempo.

Quanto à parte operacional, o impacto de Brumadinho na companhia em Minas Gerais já soma 90 milhões de toneladas, correspondente a metade da produção da empresa no Estado.

A falta de organização da produção no Estado vai muito além das duas pelotizadoras, Vargem Grande e Fábrica, que correspondem a 11 milhões de toneladas. Essa desestruturação também alcança o complexo de pelotização de Tubarão, ao lado de Vitória (ES). Um quinto do minério de Brucutu, que produz cerca de 30 milhões de toneladas por ano era enviado para lá.

Por conta do desastre, a Vale começa a deslocar pelotas de São Luís para atender Usiminas, Ternium, CSN e Gerdau. Clientes externos também são acometidos: a empresa está deixando de fornecer o mercado com esse produto, gerando fortes aumentos de preço.

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