Em 30 anos, Brasil perdeu 71 milhões de hectares de mata nativa

Foto: Variação do desmatamento no Brasil entre 1985 e 2017. Divulgação /MapBiomas.

Tal território equivale às áreas somadas dos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Paraná

Entre os anos de 1985 e 2017, o Brasil perdeu 71 milhões de hectares de floresta, no mesmo espaço de tempo em que a área da agricultura triplicou e a da pecuária aumentou 43%. Este território é o mesmo dos Estados do Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo juntos. Tais dados foram apresentados pelo Projeto MapBiomas –  plataforma inédita no planeta, que mostra um mapa mais detalhado da ocupação de terra em qualquer parte do Brasil, utilizando uma resolução de 30 metros. “São 33 mapas, um para cada ano, de 1985 a 2017. Essa ferramenta permite selecionar qualquer Estado ou município do país e acompanhar o histórico até os dias atuais”, pontuou Tasso Azevedo, que coordena o projeto e trabalha na ONG Observatório do Clima.

Segundo a ferramenta, a Amazônia foi o bioma brasileiro mais atingido pelo desmatamento neste período. De 1985 a 2017, 61,5% dos 11% de perda em áreas de floresta correspondem à Amazônia. Ao todo, essa taxa equivale a 1,6 Estado de São Paulo de vegetação apenas na parte Norte do país. “Essa área mantém o Brasil historicamente como o país que mais destrói florestas tropicais do planeta. É um desmatamento que não gera riqueza para a população brasileira, ela gera uma destruição. […] É uma área que é convertida e desperdiçada”, destacou Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima.

Já o Cerrado teve perda de 18%, sendo o mais devastado. Na sequência, vem o Pampa, com 15%; o Pantanal, com 11%; e a Caatinga, com 9,5% de desmate. Mas em contrapartida a estes índices, ao passo que a Mata Atlântica perdeu 5 milhões de hectares em 32 anos, ela conseguiu superar esse desmatamento, se regenerando em dez anos. O Pampa foi outra área que mostrou aumento de vegetação, porém, assim como a Mata Atlântica, essa recuperação se deu através de florestas plantadas (silvicultura ou florestas para fins comerciais) e não de retorno da mata nativa. Também através do projeto descobriu-se que São Caetano do Sul, no Estado de São Paulo, é a cidade com menor área vegetal do país, enquanto Altamira, no Pará, é o município que possui mais cobertura de florestas.

As imagens utilizadas pelo MapBiomas são registros históricos do programa de satélites americano Landsat. Os arquivos são capturas em alta resolução de todo o território brasileiro desde 1985. “Cada área de 30 metros por 30 metros do Brasil representa um pixel. Cada mapa completo do país tem 9 milhões de pixels. Nós montamos um consórcio com 34 organizações e fechamos uma parceria com o Google Earth Engines, que roda o Google Maps, o Google Earth e o Waze. Nós criamos um algoritmo que aprendeu a classificar cada um dos pixels – em floresta, campo, pastagem, plantação, água, cidade – e processamos os dados na nuvem”, explicou Azevedo.

A plataforma também é capaz de apontar as mudanças nas áreas desmatadas, no que cada território se transformou. Ao longo desses 32 anos, 74,5 milhões de hectares de floresta viraram pastos ou campos para fins agropecuários. Outro ganho com o projeto é que ele está servindo como fonte para estudos científicos e planejamento estratégico. A crise hídrica que assola São Paulo, Brasília e Belo Horizonte vem sendo justificada através da análise do desmatamento florestal das bacias hidrográficas. E a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) está identificando locais de possíveis surtos de febre amarela através de dados coletados pelo MapBiomas, cruzados com informações sobre a mortalidade de macacos por conta das mudanças no uso da terra.

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