Diversos tipos de dejetos tomam conta da Baía de Guanabara

Foto: Cristiano Trad

Com as chuvas no mês de abril, a quantidade de detritos aumentou. Apesar da poluição, 202 espécies de peixes ainda habitam a Baía de Guanabara

O que antes era só lama, depositadas por resíduos industriais há décadas, hoje é possível encontrar pneus, tubos de TV, inúmeros sapatos, plásticos, dentre outros. Com as intensas chuvas no mês de abril, catadores de caranguejos e ambientalistas notaram o aumento de dejetos na Baía de Guanabara se transformando em uma ilha de lixo. A “ilha”, já visível do espaço, nada tem de natural. Pura falta de saneamento e educação.

A Baía luta constantemente para viver. Ela ainda seve de abrigo para os seus últimos botos, que não chegam a 30 animais. As 202 espécies de peixes conferem um dos estuários tropicais mais ricos do mundo, segundo Marcelo Vianna, professor do laboratório de Biologia e Tecnologia Pesqueira da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Os peixes são alimentos para centenas de aves e uma importante atividade pesqueira, com cerca de 500 toneladas de pescado por mês. E a cerca de 20 quilômetros em linha reta da ilha de lixo, persiste o “pantanal carioca”, os manguezais da APA de Guapimirim, onde se criam robalos e outras 166 espécies de peixes, vivem 242 espécies de aves, 34 espécies de répteis e 32 espécies de mamíferos.

De acordo com David Zee, professor da Faculdade de Oceanografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), “a Baía é um lugar de extremos, um tesouro natural transformado em retrato das mazelas urbanas. Suas águas refletem décadas de maus tratos. Se tornou uma criação humana, Deus e natureza nada têm a ver com o monstruoso acúmulo de esgoto e lixo. Governo e sociedade são os responsáveis.

O lixo ali jogado está preso às raízes de um manguezal e se juntou na lama negra, uma sopa viscosa com ingredientes oriundos de produtos industriais, esgoto e chorume. O solo cede sob os pés e vira uma armadilha, que aprisiona e engole quem nela pisa.

O ar está contaminado pelo cheiro de decomposição, está repleto de mosquitos. O assoreamento é tão intenso que perto das margens a água não chega a 5 centímetros de profundidade.

Para o biólogo Pedro Belga, coordenador do Projeto Uçá, da ONG Guardiões do Mar, a estimativa é de que a camada de lixo ultrapasse um metro de profundidade numa área de 20 hectares, aproximadamente.

O lixo que flutua e é despejado nos rios, chega a Baía de Guanabara através das correntes e, sobretudo, pelo vento Sudeste, ressalta Paulo Rosman, professor de Engenharia Costeira da Coppe/UFRJ.

Cada vez mais, o volume de lixo depositado todos os dias é maior do que a capacidade de renovação da Baía, além de superar as ecobarreiras, que já retém mais de 200 toneladas por mês.

“A cada dia, a Baía está mais fraca. Junte falta de saneamento, de educação, miséria e violência, que obstrui o acesso a áreas controladas por tráfico e milícias, e temos o caos”, explica David Zee.

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