Como a guerra entre Rússia e Ucrânia pode prejudicar a economia brasileira?

Foto: jorono / Pixabay

Carlos Henrique Canesin, professor de Relações Internacionais do UDF, explica os perigos que o Brasil pode sofrer e quais medidas de prevenção a nação brasileira deve tomar

Os Estados Unidos e a União Europeia, já colocaram em prática as sanções contra a Rússia, com a finalidade de frearem os ataques na Ucrânia. As medidas de contenção são instaladas a favor da paz, porém, uma guerra sempre deixa sequelas e as consequências não afetam apenas os russos, e sim diversos países de todo o globo, entre eles o Brasil.

Segundo o professor do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário do Distrito Federal – UDF, Dr. Carlos Henrique Canesin, apenas em 2021, as exportações brasileiras para a Rússia atingiram cerca de USD 1,7 bilhões, concentrando-se em produtos agrícolas como soja, carnes de frango e bovinas, amendoim, café e açúcar. Já nas importações, no ano passado, o país importou USD 5,6 bilhões da Rússia, dos quais 60% (USD 3,5 bilhões), eram em fertilizantes.

Para o professor, além dos adubos, são de extrema importância para o Brasil as importações de energia, como carvão, e petróleo, que juntos representam 16%, e de insumos industriais, como ligas metálicas. Portanto, o país sofrerá impactos nos setores agrícolas e energéticos, que por serem básicos na economia, causarão impactos negativos para os consumidores de forma potencialmente ampla.

“Os mercados de commodities globais, já estão sofrendo os efeitos do conflito, tendo em vista que a Rússia é um dos maiores fornecedores de petróleo, gás e fertilizantes para o mercado internacional, dessa forma, o impacto sobre a economia brasileira não é apenas direto e derivado da relação Brasil-Rússia, mas também indireto, em consequência da posição russa nos mercados globais”, explica.

O especialista ressalta que a escalada das sanções à Rússia, pode gerar recordes de preços internacionais de energia e fertilizantes, impactando as cadeias globais de valor e não só o mercado doméstico brasileiro, mas também a competitividade do Brasil nos mercados internacionais.

De acordo com o professor do UDF, no caso dos combustíveis, embora a importação de petróleo responda por apenas 6% do volume total no país, o setor é altamente interdependente com o restante do mundo e o Brasil exportou cerca de 48% de sua produção, principalmente para a China, com isso, a elevação dos preços internacionais pode trazer grandes impactos sobre os preços e o fornecimento doméstico do insumo, sem a possibilidade de descartar problemas de suprimento do mercado interno devido à elevação do preço e da demanda internacional.

Já na questão dos alimentos, a Rússia responde em média por aproximadamente 23% das importações de fertilizantes no Brasil, sendo virtualmente o único fornecedor de nitrogenados. “Considerando que o país é dependente destas importações para um setor agrícola moderno e altamente intensivo em insumos, seguramente teremos um impacto negativo nos preços finais devido à elevação do custo de produção”, comenta.

O internacionalista ressalta que pode acontecer uma pressão inflacionária sobre o setor, em razão da redução da oferta internacional de alimentos e elevação dos preços, tendo em vista que países europeus já começaram a impor bloqueios de exportação de grãos e principalmente de trigo.

“Este efeito negativo deverá perdurar no curto a médio prazo, mesmo a despeito de estratégias para acalmar o problema, como: a diversificação dos fornecedores internacionais e fomento da produção doméstica, já que os preços no mercado internacional foram igualmente afetados e a produção doméstica é de maior custo, exigindo um nível elevado de investimentos para ser viabilizada”, afirma.

Como o Brasil pode se prevenir?

Carlos Henrique ressalta que a posição política adotada pelo Brasil no cenário internacional, aumenta os riscos de potenciais parceiros internacionais fazerem negócios com o país, já que empresas e até o próprio governo, estão sujeitos a enfrentarem uma deterioração de suas credibilidades, estabilidade econômica e solvência em função dos impactos diretos da crise, de forma a elevar o risco de fazerem negócios.

Para Carlos, existe também a chance de que instituições privadas e o governo brasileiro, sejam alvos de sanções ou boicotes privados internacionais em função de eventualmente manterem negócios com a Rússia e Belarus, não aderindo às sanções impostas pela comunidade internacional.

“A curto prazo não tem muito o que ser feito adicionalmente às medidas que vem sendo adotadas, como a diversificação de fornecedores de fertilizantes, incentivo a racionalização e melhor eficiência dos sistemas produtivos agrícolas. No entanto, uma medida prudente seria evitar elevar o risco da reputação do país e de suas empresas, atuando na política internacional de forma mais alinhada à comunidade internacional, em face dos potenciais impactos adversos sobre a nação”, explica.

O docente do UDF complementa que a nação brasileira precisa aumentar o investimento em pesquisas agrícolas para elevar ainda mais a eficiência dos sistemas produtivos e reduzir a dependência de insumos importados.

Investimentos em infraestrutura e na produção doméstica de insumos também são cruciais para assegurar a segurança alimentar do país no longo prazo. “No setor de energia, é preciso modernização e políticas públicas efetivas que auxiliem o país a dar passos mais rápidos rumo a uma transição energética, com programas voltados não apenas para diversificação de fontes na geração de energia, mas também em geração distribuída, plantas fotovoltaicas residenciais e eletrificação da frota de automóveis”, finaliza.

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