Planejamento Financeiro no Brasil: do passado inflacionário à inteligência financeira do presente e do futuro

Durante décadas, o comportamento financeiro do brasileiro foi moldado por um trauma coletivo: a hiperinflação. Nos anos 80 e início dos anos 90, os preços subiam de um dia para o outro e a principal regra econômica que as famílias aprendiam era gastar rapidamente antes que o dinheiro perdesse valor. Aprender a poupar parecia inútil. O consumo imediato tornou-se um instinto de sobrevivência.

Com a chegada do Plano Real, em 1994, a inflação foi finalmente controlada. Mas a herança comportamental e a mentalidade do imediatismo permaneceram: pouca cultura de planejamento, alto consumo e uma relação frágil com o dinheiro.

O paradoxo brasileiro: desejamos estabilidade e independência financeira, mas cultivamos o descontrole

Hoje, a maioria dos brasileiros sonha com independência financeira, aposentadoria precoce e uma vida sem dívidas. No entanto, dados da Anbima revelam que 63% da população não possui nenhum tipo de investimento. Paralelamente, cresce o número de pessoas que confundem apostas esportivas e jogos de azar com “investimentos”, o que revela uma lacuna grave em educação financeira.

“Existe um paradoxo muito claro: as pessoas querem estabilidade, mas vivem em ciclos de consumo e endividamento. Planejamento exige disciplina e paciência, dois ativos escassos na vida moderna”, analisa Winny Soyat, especialista em crédito, consórcio e educação financeira. Ela também é corretora de imóveis e foi recentemente nomeada Coordenadora da Comissão Temática de Consórcio do Creci-RJ.

O crédito encareceu — e os sonhos estão mais distantes

Nos últimos meses, o acesso ao crédito ficou mais difícil e mais caro. De acordo com o Banco Central, a taxa média de juros do crédito livre para pessoas físicas chegou a 53,9% ao ano, enquanto a inadimplência aumentou, resultando em maior seletividade dos bancos. O crédito rotativo no cartão de crédito ultrapassa 445% ao ano, um território perigoso para qualquer consumidor desavisado.

No financiamento imobiliário, o cenário também se complicou. Embora o volume de crédito tenha crescido pontualmente, os bancos estão mais restritivos e os juros podem chegar a 13,5% ao ano, dependendo do perfil do cliente. Famílias com boa renda e histórico de pagamento vêm sendo reprovadas com frequência. O que era acessível há poucos anos se tornou, para muitos, inalcançável.

No mercado de veículos, o mesmo se repete: as vendas de carros têm sofrido e os financiamentos estão menos disponíveis, tendo atingido a maior taxa de juros da história, 29,5% ao ano. Com a taxa Selic elevada e o reflexo nos juros dos financiamentos, as montadoras têm apostado cada vez mais em parcerias com administradoras de consórcio como forma de driblar os juros altos e reaquecer as vendas.

O impacto nas empresas: crédito escasso, fluxo de caixa ameaçado

As pequenas e médias empresas — responsáveis por 7 em cada 10 empregos formais no país, segundo o Sebrae — também enfrentam sérias dificuldades. A taxa média de juros para empresas no crédito livre chegou a 24,2% ao ano em janeiro de 2025. E com as recentes mudanças no IOF, o custo total das operações ficou ainda mais elevado.

“Nesse contexto, empresários atentos têm buscado alternativas mais inteligentes e estratégicas de financiamento. O consórcio tem se consolidado como uma solução eficaz para aquisição planejada de ativos com previsibilidade e sem juros, contribuindo significativamente para um planejamento financeiro corporativo mais eficiente. Essa é uma leitura que poucos têm feito com profundidade, e exige visão de longo prazo e entendimento profundo do mercado”, analisa Winny.

O consórcio como ferramenta de inteligência financeira

Tradicionalmente visto como uma alternativa à falta de crédito, o consórcio tem se reposicionado como instrumento de inteligência financeira — para indivíduos, investidores e empresas. Em um ambiente onde o dinheiro custa caro, ele permite uma abordagem diferente: planejamento, disciplina e economia. “O consórcio não é mais uma solução apenas para quem não conseguiu crédito. Ele se tornou uma ferramenta de estratégia de aquisição e planejamento para quem quer fugir dos juros e conquistar seus objetivos”, explica Winny.

Usos estratégicos do consórcio:

•       Para quem deseja consumir com consciência: aquisição de imóveis, veículos, equipamentos, viagens, cirurgias plásticas ou até mesmo animais, sem juros e com parcelas acessíveis.
•       Para investidores: uso para diversificação patrimonial, alavancagem e crescimento com segurança.
•       Para empresas: aquisição planejada de ativos, com impacto positivo no fluxo de caixa e sem a volatilidade dos empréstimos tradicionais.
•       Para o futuro financeiro: uma alternativa real, complementar ao INSS, e isenta de IR para aposentadoria planejada.

Aposentadoria: uma conta que não vai fechar

Segundo o IBGE, o Brasil terá mais idosos do que crianças já em 2030. A chamada razão de dependência da população idosa — que mede quantos trabalhadores ativos sustentam um aposentado — está se invertendo rapidamente. Em 2000, havia 10 pessoas em idade ativa para cada idoso. Em 2060, esse número cairá para menos de 2.

Em paralelo, o modelo atual da Previdência pelo INSS, baseado em repartição simples, enfrenta crises de sustentabilidade e está em xeque. Além disso, os escândalos de fraudes nas aposentadorias públicas lançaram ainda mais dúvidas sobre a credibilidade do sistema. O resultado? Incerteza.

“O brasileiro precisa se preparar para um futuro em que depender exclusivamente da aposentadoria pública será um grande risco. O consórcio pode ser uma forma prática e disciplinada de acumular patrimônio que gere renda futura, seja por meio de aluguel de imóveis, revenda ou uso pessoal na aposentadoria”, afirma Winny Soyat.

Um mercado em movimento e em expansão

A demanda por consórcios cresce ano após ano como uma resposta natural à escassez de crédito tradicional e à busca por uma relação mais inteligente com o dinheiro. Segundo dados da ABAC, mais de 10 milhões de brasileiros participam hoje de algum grupo de consórcio. Em 2024, o volume de créditos comercializados ultrapassou R$ 250 bilhões, com destaque para os segmentos imobiliário, de veículos leves e pesados, e serviços.

O reconhecimento institucional também avança. A criação da Comissão Temática de Consórcio no Creci-RJ — sob coordenação de Winny — marca um novo posicionamento do setor no mercado imobiliário: o consórcio é legitimado como uma ferramenta de acesso à moradia e à construção de patrimônio de forma mais sustentável. “A criação dessa comissão é um sinal claro de que o setor está atento às mudanças no comportamento de compra e ao uso de soluções mais interessantes para o cliente”, afirma Winny.

Conclusão: não podemos viver como se o amanhã não chegasse

“O brasileiro precisa romper com a herança do consumo imediato e começar a pensar estrategicamente sobre seu futuro. Ou permanecemos presos a um modelo que incentiva o endividamento, ou caminhamos rumo a uma nova consciência financeira, baseada em planejamento, informação e escolhas mais inteligentes. Não podemos ser reféns das oscilações da política econômica ou das mudanças legislativas que ora nos favorecem, ora nos penalizam”, reforça Winny.

O consórcio, já reconhecido na legislação como instrumento de progresso social, representa uma dessas alternativas inteligentes. Ele permite que o consumidor assuma o protagonismo de suas conquistas — com disciplina, previsibilidade e independência.

“A pergunta não é mais se o consórcio funciona mas, sim, como você pode usá-lo da forma mais estratégica possível para transformar seus planos em patrimônio de verdade”, conclui Winny Soyat.

Publicado 31/05/2025

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