Países-ilha pedem ‘mutirão’ para salvar o oceano

Foto: Oceano Pacífico / Pixabay

Para nações insulares o oceano é mais do que fonte de alimento e renda — é também paisagem sagrada, identidade cultural e beleza natural que atrai visitantes de todo o mundo

Com praias de areias brancas, recifes coloridos e culturas profundamente conectadas ao mar, os pequenos Estados insulares não são apenas destinos paradisíacos. Eles estão na linha de frente da crise climática — e pedem que o mundo retribua sua beleza com solidariedade. Por isso, a Aliança dos Pequenos Estados Insulares (AOSIS), invoca o conceito brasileiro de mutirão, adotado pela presidência da COP30, para cobrar ações climáticas que priorizem a proteção dos oceanos.

O chamado foi feito durante a Terceira Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos (UNOC3), que foi realizada em Nice, na França.

“O oceano sustenta nossas economias, molda nossas culturas e alimenta nossas comunidades. Como guardiões de quase 30% de sua vasta extensão, abraçamos tanto um profundo privilégio quanto uma responsabilidade solene — um dever compartilhado por todas as nações que veem o mar como parte de sua herança e de seu futuro”, afirmou o presidente Surangel Whipps Jr., de Palau, atual presidente da Aliança dos Pequenos Estados Insulares (AOSIS).

“No espírito do mutirão, estamos comprometidos a fazer nossa parte. Mas os outros estão igualmente comprometidos a fazer a deles?”, acrescentou.

Em coletiva realizada em Nice, a presidenta das Ilhas Marshall, Hilda Heine, enfatizou que a mudança climática é a maior ameaça à segurança nacional dos países-ilha. 

“Devemos lembrar: não há ação climática sem ação oceânica. O oceano está arcando com as maiores consequências do nosso fracasso em enfrentar a mudança do clima e em abandonar os combustíveis fósseis. Não podemos correr o risco de comprometer a capacidade do oceano de absorver carbono”, afirmou Heine. 

A presidenta das Ilhas Marshall cobrou a França a impulsionar os demais países ricos: “Pedi ao presidente Macron que leve a União Europeia a adotar uma meta de 95% [de redução de gases] em sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC). Isso é fundamental para garantir um futuro seguro. As NDCs precisam focar não em compensações, mas em reduções domésticas. Também solicitamos que Macron seja um defensor das Ilhas do Pacífico na UE, no G20 e no G7. Espero que ele conduza esses grupos rumo a uma maior ambição climática.”

O apelo dos países-ilha chega em um momento crucial. Dez anos após a assinatura do Acordo de Paris, as nações insulares continuam a arcar com as consequências da lentidão global em agir. À medida que os países preparam sua próxima rodada de compromissos climáticos (as Contribuições Nacionalmente Determinadas, ou NDCs), a AOSIS está pedindo à comunidade internacional que coloque o oceano no centro desta década decisiva para o clima.

“Instamos todas as nações — especialmente as grandes economias — a se alinharem à meta de 1,5°C por meio da submissão de planos climáticos nacionais reforçados e baseados na ciência no caminho para a COP30. Esses planos são essenciais para proteger a saúde dos oceanos, fortalecer a resiliência e investir em tecnologias limpas que possam impulsionar a economia oceânica.”

A ameaça do plástico 

A mobilização também ecoou entre defensores do turismo sustentável e da economia azul reunidos em Nice, que veem nas águas cristalinas dessas ilhas não só um atrativo natural, mas um ativo ameaçado pela poluição plástica. E a mobilização deu resultado – mais de 90 países já assinaram a “Declaração de Nice por um Tratado Ambicioso sobre Poluição Plástica”, que terá uma rodada final de negociações em Genebra, de 5 a 14 de agosto de 2025. 

Derivados de combustíveis fósseis, os plásticos são difíceis de reciclar e se converteram em uma das principais fontes de poluição marinha em todo o mundo. A Declaração de Nice apresenta os elementos essenciais de um acordo à altura da crise da poluição plástica. Ela destaca a necessidade de enfrentar o problema ao longo de todo o ciclo de vida do plástico, incluindo limites à produção e proibições de substâncias químicas perigosas. Esses pontos centrais foram justamente o foco do impasse em Busan, na Coréia do Sul, em dezembro passado, quando países petroleiros bloquearam avanços ao tentar restringir o alcance do tratado.

Publicado 17/06/2025

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